A comunicação é uma arte

Uma das áreas a que me tenho dedicado mais desde o início da minha licenciatura é na comunicação do conhecimento. O conhecimento é essencial, e exige meios e muito trabalho, mas sem uma comunicação eficaz e consistente, perde-se o real porquê do trabalho o que acaba por não permitir valorizar o que foi feito. Por vezes, é o caso do que acontece em ciência. E por isso mesmo continuo a trabalhar afincadamente nesta “soft skill”.

Algumas pessoas perguntam-me se as minhas fontes de informação são científicas, sim claro que são. Leio diariamente artigos científicos, essa é a minha fonte de informação primária. Mas o meu site não é para colegas, é para comunicar com o público e por isso tenho de adaptar a linguagem a dois fins:

1 – a um público que pode não dominar conhecimentos elementares da nutrição e a quem tem de ser explicado o ABC de um tema

2 – à tomada de acção, afinal de contas conhecimento sem tomada de acção não serve de muito

E por isso por vezes falo em linguagem tão acessível quanto possa, mesmo que o tema me tenha exigido uma extensa pesquisa científica a priori. Perdoem-me os mais descrentes mas eu leio sobre nutrição há 18 anos, quando ainda não havia internet de banda larga como todos temos hoje.

Mas o que importa realmente isto, dou o exemplo de algumas recomendações que leio e de que forma acho que poderiam ser melhor escritas para promover precisamente a tomada de acção.

Exemplo 1: Optar por cereais integrais, sempre que possível. 

A perspectiva mais correcta deste conselho seria: prefira cereais e seus derivados o mais próximos possível da sua matéria-prima e o menos processados e refinados. Nesse sentido, tem como melhores opções:

  • Flocos de aveia , de centeio ou cevada
  • Pão feito a partir de cereais pouco refinados, o pão de mistura com farinha T80 ou T100 ou com farinha de centeio
  • Arroz integral ou não branqueado
  • Massa de trigo duro

Exemplo 2: Consumir diariamente 400g ou mais de hortaliças e frutas frescas.

Como transformar isto em linguagem de consumidor?

  • Ingira diariamente 2 a 3 peças de fruta fresca, prefira frutas da época e varie o mais possível. Como regra de bolso pode adoptar: 1 citrino, 1 fruta tropical, 1 fruta da época
  • Coma diariamente 1 tigela de sopa de hortaliças , 1 salada colorida e 1 pires médio de verduras cozinhadas (assadas, cozidas a vapor, estufadas)
  • Procure variar o mais possível nas hortaliças no prato, escolhendo sempre que possível duas cores, por exemplo: brócolos e cenoura, espinafres e abóbora (estufados/cozinhados a vapor); salada de alface, tomate & cenoura ralada ou tomate & beterraba.
  • Se faz verduras cozidas por fervura, fraccione o menos possível a hortaliça , coloque-a apenas quando a água estiver a ferver e sempre que possível aproveite a água.
  • Prefira hortaliças e fruta na sua época adequada e, se for possível, procure produtores locais de agricultura biológica

Exemplo 3: elimine contaminantes na cadeia alimentar. 

A meu ver, este é dos passos mais importantes nos dias que correm no que diz respeito a promover saúde e ao mesmo tempo sustentabilidade ainda que nem sempre directamente.

  • Abra menos embalagens, compre sempre que possível alimentos o menos processados (exemplo clássico: compre as hortaliças avulso e não “embaladas”)
  • Pode comprar alguns ingredientes  a granel e colocar em recipientes de vidro ou até em sacos de papel reciclado: arroz, leguminosas secas.
  • A carne pode ser congelada em papel vegetal e não em sacos de plástico que deixa sempre resíduos , o ideal seria comprar o adequado para um planeamento semanal
  • Pense em investir num bom filtro de água para ter em casa, não só poupa dinheiro como vai minimizar a utilização de garrafas de plástico.
  • Prefira uma garrafa em vidro ou material livre de BPA para transportar água
  • Em caso de dúvida, é preferível fazer o chá na hora do que transportar numa garrafa ou termo com plástico
  • Deixe arrefecer a comida num prato antes de colocar nas caixas herméticas de plástico
  • Não lave e não aqueça caixas herméticas de plástico, sobretudo se forem de menor qualidade

Reparem o quanto isto se distancia de conselhos “cliché” como:

“Coma muitos verdes”

“Beba água mas da torneira que o plástico faz mal” 

“Prefira tudo integral” 

 

O Nutricionista é por isso mesmo uma peça chave entre os profissionais de saúde para transformar o conhecimento científico em medidas de aconselhamento para a população geral. E está aliás nas competências destes profissionais, a comunicação com o público em linguagem apropriada que permita ao indivíduo a tomada de decisão.

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